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O vírus e nós: somos todos suspeitos, somos todos vítimas

26 de março de 2020 (do ano que a terra parou)

Parei de contar os dias na quarenta. Pra que contar?

Os casos de coronavírus no mundo passam de meio milhão. Foram 100 mil novos casos em dois dias. Organização Mundial da Saúde alertou sobre a aceleração da pandemia e prevê que milhões poderão morrer, se países não agirem de forma agressiva para contê-la.

No Brasil são 77 mortes oficialmente sendo que 20 em um único dia. Os casos confirmados são 3 mil,  mas pelo que se sabe esses números estão muito aquém do real. Primeiro porque os resultados dos exames demoram para sair; segundo porque muita gente não está sendo contabilizada nas estatísticas.

Prefeitos e governadores se mobilizam para conter a epidemia. Higienização nas ruas, toque de quarentena, construção de hospital de campanha, apoio para famílias carentes que estão sem remuneração por estarem sem trabalhar…

O presidente? Esse aí segue falando asneiras, chamando de gripinha e dizendo não ao isolamento em prol da economia  que não pode entrar em colapso. Mas todos sabemos que a economia já vinha ruim há meses e muito antes da pandemia o Dólar ja estava mais de R$ 4,00.

Em Cotia, o último boletim divulgado pela Secretaria de Saúde é do dia 23.  A cidade chora pela partida de Alexandre Pankeka, a primeira vítima oficial do maldito covid-19. Pankeka tinha 46 anos, era amigo e conhecido de muitas pessoas na cidade. Tinha esposa e filhos.  Sua família não poderá se quer fazer um velório para cumprir o ritual de despedida, devido o risco de contaminação.

No Hospital de Cotia um jovem guarda civil de apenas 36 anos luta pela vida, “entubado” .  A boa noticia é que os dois primeiros casos identificados oficialmente na cidade, um casal da Granja Viana, anunciou que não tem mais sintomas da doença.

Hoje pela primeira vez acordei de baixo astral e devido as notícias acima, meu astral só piorou. Uma mistura de sensações: impotência, tristeza, desemparo, um nó na garganta, tensão e medo com a doença e a morte cada vez mais perto.

O dia estava lindo e o céu claro. Comemorei o fato de precisar sair para comprar umas coisas para abastecer a dispensa.

O mercadinho da rua é apertadinho mas tinha só 3 pessoas. Álcool em gel só para os clientes higienizarem as mãos. Peguei algumas frutas, produtos de limpeza xampu para meus cachos – não é porque estou de quarentena que vou ficar descabelada. Fiquei emputecida porque não encontrei a tinta para meus cabelos brancos. Mas tinha chocolate para aliviar a TPM.

É estranha a sensação de não ver nas ruas os meus vizinhos do bairro em que cresci, os bares e empresas fechados. É estranha a sensação de ver alguém mudar de calçada quando te vê, afinal eu posso representar um perigo. Eu também fiz a mesma coisa ao avistar um senhor de máscara.

Chegar em casa da rua é ritual, sobretudo numa casa em que há uma pessoa do grupo de risco. O vírus tem que ficar do lado de fora. Tira os sapatos e vai direto para o banheiro, roupas pra lavar e todos os produtos são higienizados. Chorei escondida no banheiro e assim nem eu mesma pude ver as minhas lágrimas que se misturaram com a água do chuveiro.

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