
O vírus e nós. Sem liderança, sem esperança…
24 de maio de 2020 (do ano em que a terra parou)
Já passamos dos 70 dias de isolamento. A tal curva que mede o índice de infectados e mortos não para de subir. E tenho a impressão de que no rítmo em que estamos não vai parar de subir tão cedo.
A contagem de tempo é algo que ficou estranho nessa pandemia. Ele [o tempo] parece passar mais rápido. Não tenho mais hora para dormir, nem para acordar. As refeições acontecem a qualquer hora e vão sendo puladas ou emendadas umas nas outras.
Aliás, comer é algo que se tem feito desenfreadamente de acordo com relatos. Fazer pães virou terapia para os chamados “quarenters”. A outra sensação da quarentena são as lives no Facebook e no Instagram, com os mais variados temas possíveis. De famosos e anônimos.
Muitos preferem nem tocar nesse tema mas ouvi dizer e vi algumas pesquisas por aí que demonstram que o isolamento, [para os que estão isolado] fez aumentar também a interação nos sites de relacionamento.
O excesso de trabalho tem sido minha salvação financeira e mental. Diante de tantas pessoas que estão sem trabalho e nenhuma fonte de renda nessa pandemia, eu me sinto uma privilegiada.
Outra coisa que ficou evidente nessa pandemia foi que, nós brasileiros, além de não sabermos escolher presidente, estamos longe de saber o que é isolamento ou distanciamento social. Não conseguimos passar o índice de 50% de isolamento diante dos 70% recomendados. As ruas estão constantemente cheias pessoas circulando, sem a menor preocupação com a sua saúde e de seu próximo. Enquanto escrevo este texto, uma festa com música de péssima qualidade e um cantor desafinado e com voz ruim corre a solta. E dá para ouvir gritos dos festeiros. Sim, já houve mortes por covid-19 em meu bairro e temos pessoas doentes por aqui e bem sabemos que a possibilidade de o número de doentes do bairro aumentar a partir desta festa é grande. Apesar de ter seguido as orientações e acionado a Guarda Civil Municipal, indicada pela Prefeitura como agente para conter as aglomerações, de nada adiantou.
Enquanto o Brasil entra no topo da lista dos países com mais mortes pelo covid [são mais de 22 mil mortes oficialmente], enquanto, médicos, enfermeiros lutam com todas as suas forças e parcos recursos para salvar vidas, enquanto o sistema de saúde entra em colapso e os cemitérios lotam, um outro vírus, o da ignorância, vai provocando outros estragos.

Enquanto cientistas e médicos dedicam horas de estudos e pesquisas em busca de uma solução para, se não vencer o vírus maldito ao menos aliviar um pouco o sofrimento de minha gente que chora, o Brasil ganha destaque em todos os noticiários do mundo por termos um presidente que vai no caminho oposto da ciência e da medicina. Com uma canetada, decreta que a cloroquina deve ser a medicação a fazer parte do protocolo médico, mesmo sem nenhuma comprovação de eficácia e muitas ressalvas da comunidade científica. E debocha. “Quem é direita usa cloroquina. Quem é de esquerda usa tubaína”, foi sua frase mais célebre.

Em São Paulo, estado com maior incidência de doentes e mortes, o governador tucano João Dória virou “persona nom grata” do rebanho acéfalo. E que ninguém me ouça mas eu até estou conseguindo gostar um pouquinho do ex-gestor da capital que vem se desdobrando para conter o avanço do vírus. É certo que de forma meio atabalhoada e sem grandes sucessos. Para manter os paulistas e paulistanos em casa, mudou o formato dos rodízios e antecipou feriados mas isso não deu muito resultado. Liderança nunca foi o seu forte.
Enquanto isso, o Ministério da Saúde é literalmente capitaneado por ministro interino, um militar junto a outros tantos militares sem qualificação em Saúde.
Enquanto os pedidos de impeachment do “rei do gado” se acumulam no Superior Tribunal Federal (STF) e na Câmara dos Deputados, o Brasil parou para assistir ao vídeo da reunião ministerial e se chocou com os palavrões e com as atrocidades ditas pelos membros do governo e pelo próprio governo.
Antes eu dizia que sentia vergonha do governo do meu país, mas com orgulho posso encher o peito e gritar em alto e bom som QUE ESSA CULPA NÃO É MINHA.
Fiquei bem feliz quando li as manchetes de que a Nasa havia descoberto um “universo paralelo” onde o tempo fluiria ao contrário. E logo pensei que é pra lá que eu vou. Mas para minha decepção era mais uma daquelas noticias fakes.
A covid-19 é a principal causa de morte no Brasil. São mais de mil todos os dias. O Brasil chora, sem rumo, sem liderança, sem esperança…
