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A Irmandade e o empoderamento feminino

Muitas são as séries e filmes nacionais ou internacionais ambientalizados em presídios cujos personagens principais são presos ou presas. Eu já vi algumas e também mais de uma vez estive em presídios reais, com presos reais; primeiro porque na década de 90 o meu tenebroso TCC – Trabalho de Conclusão de Curso, que éramos obrigados a fazer, foi sobre o sistema penitenciário. Mais recentemente, já exercendo minha profissão, estive novamente junto a presos. O ambiente é horripilante, nojento, fétido, medonho. E o clima tenso.

Mas voltando à ficção, e neste caso qualquer semelhança com a realidade não é mera coincidência na trama da Netflix que tem Seu Jorge, Lee Taylor, Naruna Costa e Hermila Guedes como atores principais.

“Uma advogada honesta enfrenta um dilema moral depois que policiais a forçam a delatar seu irmão, que está preso e lidera uma facção criminosa em ascensão.”

Isso não é uma crítica de cinema, apenas algumas considerações de alguém que conheceu um pouco de perto o ambiente de presídios, de alguém que por força da profissão e de sua própria personalidade inquieta conhece um pouco o mundo do crime e, por fim de alguém que por decisão da natureza nasceu mulher e no Brasil.

Talvez eu seja bastante criticada pelo que vou escrever pois quem me conhece sabe de minhas lutas e minhas bandeiras em defesa dos mais fracos, e dos Direitos Humanos mas é muito comum vermos pessoas que com esse mesmo perfil, se solidarizando com criminosos, tendo pena deles porque são vítimas do sistema que não dá oportunidades para pobres e pretos. A badalada série espanhola “La Casa de Papel” foi um exemplo de assaltantes ovacionados pelo público.  E com a Irmandande ocorreu algo parecido com base no discurso contra a opressão do líder da facção criminosa, interpretado com muita categoria por Seu Jorge.

Sem dar muito spoiler, eu começaria fazendo uma ressalva logo na sinopse: a advogada Cristina (Naruna Costa) não é honesta. A sinopse não diz que ela foi forçada pela polícia a entrar no mundo do crime porque antes disse cometeu um crime, de falsificação de documento oficial. Ela poderia ter usado outros recursos para livrar o irmão dos maus tratos mas preferiu o mais rápido. Foi chantegeada por um policial corrupto. E isso foi um pulo para se tornar mais uma “irmã”.

É fato que seu irmão estava sendo vítima de maus tratos na cadeia. Claro que esse não é a postura esperada de agentes penitenciários. Mas seu irmão Edson (Seu Jorge) foi preso por ter cometido um crime e lidera a facção criminosa, a Irmandade, de dentro do presídio com a ajuda de sua esposa Marlene (Hermila Guedes);

Mas como prometi que não ia me alongar no spoiler, gostaria de destacar o fato que chama atenção no filme: as mulheres.

Empoderadas.  A dupla Cristina e Marlene comandam a Irmandade com mão de ferro, arma em punho, porradas, tiros, mutilação.  Lidam muito bem com sangue escorrendo para todo lado, cabeças rachadas pelos tiros, transitam livremente pelo presidio de cabeça erguida. E como estamos falando de mulheres, claro, que a sedução não falta e Cristina vai se entregar aos desejos da carne mas não ao amor que lhe é oferecido por Ivan, o belo Lee Taylor .

Apesar do perfil de liderança e de discurso “progressista” do personagem de Seu Jorge, o líder da facção que fica limitado por estar preso, a grande protagonista da série é sem dúvida Naruna Costa, que brilha. Inicialmente em conflito ético e moral,  afinal é ou era, uma advogada que trabalha no Ministério Público, mas se transforma para defender sua família – Edson o mais velho e posteriormente o mais jovem.  Mas defende principalmente a própria pele e com isso descumpre também a ética do crime, faz jogo duplo, joga sujo com os com o “irmãos”.

Vamos aguardar a segunda temporada para saber qual será o destino da empoderada “irmã”. Claro que estamos falando de uma obra e ficção e qualquer semelhança com a realidade terá sido mera coincidência. Será?

 

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