
Vamos esperar a próxima tragédia?
O ano de 2019 já tem tudo para ser marcado na vida dos brasileiros como o ano das tragédias. Muitas mortes no crime da Vale em Brumadinho, incêndio no CT do Flamengo, a queda do helicóptero do colega Ricardo Boechat, além das enchentes e soterramentos e por que ceifaram vidas em São Paulo, Rio de Janeiro recentemente, desfizeram famílias e deixaram dor e tristeza.
Mas hoje quero me concentrar na última tragédia, de Suzano, Grande São Paulo, quando dois jovens invadiram a Escola Estadual Raul Brasil, atiraram para todo lado, mataram seis adolescentes, dois adultos e depois se mataram. Gritos, medo, terror, raiva, tristeza, comoção e rapidamente o assunto ganha as redes sociais com fotos, vídeos e milhões de comentários.
Infelizmente, cenas parecidas com a de Suzano não são novidades nem no Brasil nem no mundo. Com a ajuda da Agência Brasil que fez o levantamento, vamos relembrar alguns casos conhecidos e recentes no país.
No Colégio Goyases, em Goiânia, quando adolescente de 14 anos assediado por bullying matou dois colegas de 13 anos e feriu outros com a arma da mãe, policial civil.
Na apuração das razões do crime, o autor dos disparos disse à polícia que se inspirou no atentado ocorrido em 1999 na escola de Columbine (Estados Unidos), com quinze mortos e 24 feridos, e no massacre ocorrido em Realengo, no subúrbio carioca, em 2011 – quando um adulto (23 anos) efetuou mais de 60 disparos e matou 12 crianças na escola municipal Tasso da Silveira.
Os dois casos são os que registram os maiores números de vítimas. No mesmo ano do episódio em Realengo, uma criança de 10 anos em São Caetano do Sul (SP) atirou em sua professora (4ª série) e depois se matou. Em abril de 2012, um adolescente de 16 anos da cidade de Santa Rita (PB) atirou em três alunas quando tentava acertar outro estudante.
Há registro de mortes de estudantes também por arma branca, como o assassinato por facada contra um adolescente por um colega de sala em uma escola rural em Corrente (PI). E tantos outros crimes praticados por crianças e adolescentes.
De quem é a culpa?
Em meio à tragédia e a dor das famílias que perderam seus entes queridos, uma discussão ganha as redes sociais. A flexibilização do uso de armas de fogo, bandeira de campanha do Presidente Jair Bolsonaro (PSL) e já em regulamentação no Brasil.
“Temos que entender o porquê de isso estar acontecendo. Essas coisas não aconteciam no Brasil. Vemos essa garotada viciada em videogames violentos (…). Tenho netos e os vejo muitas vezes mergulhados nisso aí”. A frase é o vice-presidente do Brasil General Mourão ao se manifestar sobre o caso de Suzano.
Para Mourão, o fato não tem nada a ver com liberar ou não a posse ou porte de armas. Já o Senador Major Olimpio, defendeu que se os professores estivessem armados a tragédia de Suzano poderia ter sido minimizada.
Sim, General Mourão, temos que entender o porquê de isso estar acontecendo em nosso Brasil. Isso não é de nossa natureza, somos, ou éramos um povo alegre, feliz, solidário. Será mesmo que o senhor não tem a resposta? Por que nossos jovens e crianças estão se transformando em serial killers?
Longe de mim ser partidária do General Mourão, mas penso que o incentivo ao uso de armas que vem do atrapalhado presidente twitteiro, que desde que assumiu só faz a gente passar vergonha, não é o responsável por esta tragédia. Assim como possuir arma em casa ou porta-las não é a solução para reduzir a criminalidade ou a violência. E nem precisa ser especialista para afirmar isso, basta dar uma olhadas nas estatísticas.
Dias desses eu li um texto de um novo amigo jornalista e escritor, Anselmo Duarte, que falava entre outras coisas sobre a resiliência do povo brasileiro, que resumidamente é a capacidade do ser humano ultrapassar limites, tirar das entranhas forças para superar dificuldades e dores.
Queria ser otimista, mas está muito difícil. Vamos aguardar a próxima tragédia ou vamos sair da zona de conforto?
É, resiliência temos de sobra. É o que nos resta.