Uma carta para Tia Antônia

*Por Marcos Roberto Bueno Martinez

Tia, solto estas palavras ao vento, que as depositará em suas mãos.

Tia Antônia, que saudade! Há quanto tempo não a vejo? Saudades do ferroviário Tio José Martins, seu companheiro de uma boa jornada. Sabe Tia, ferroviário não é uma profissão, é uma poesia. E vocês fizeram da vida uma poesia. Tenho ainda, a imagem do rosto do tio guardada nitidamente na minha memória. Noventa anos de vida, Tia? Não conheço ninguém neste mundo de meu Deus que tenha aproveitado tão bem a vida como a senhora. Boa conselheira. Guardo seus conselhos até hoje.

Tia Antônia, que atrevimento é esse? A senhora nasceu na década de 20, considerada uma época de muitas inovações. As mulheres deixam os espartilhos de lado e passam a usar cabelos curtos. As mulheres conquistam o direito de votar nos Estados Unidos. Abusam do batom vermelho e passam a ser chamadas de melindrosas (Flapper – jovens rebeldes). Multidões enchem os cinemas para assistir ao “Gordo e o Magro” e Charles Chaplin (Carlitos). Atrevimento maior mesmo, Tia, foi criar os filhos durante esta sua jornada, quase sozinha, com a partida do Tio José. Tia, dizem que a gente começa a ser moldado no céu. Verdade! Foi aqui que uma parte de tudo começou: Ana Bozada Delgado e o comerciante Antonio Rivera Luque.

Marcos Martinez é professor, historiador e escritor (http://memoriasdecotiaeoutrasconversas.blogspot.com.br/)

Sabe Tia, parentesco não é consanguíneo e sim espiritual. Sinto um imenso carinho e respeito pela senhora. Tem sentimento que o tempo não apaga. Tem palavra que o tempo não apaga. Tem gestos que o tempo não apaga. Tem sentimento que só aprofunda o bem-querer. Da senhora só recebi bons sentimentos. Sou grato.

Dez de janeiro de 1927. Data em que a senhora veio ao mundo. Trouxe da sua ancestralidade sabedoria que soube usar com inteligência. Depois de noventa anos a senhora nasce novamente! No ano que vem a senhora renascerá de novo. Deus gosta de gente divertida e que sabe levar a vida com sabedoria. Como a senhora.

Despeço-me desejando um feliz aniversário. Um abraço fraternal da minha mãe (Cida) da minha companheira (Germana) e meus filhos (Ícaro & Maria Karolina).

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