
Três pontos – Crônica da sabedoria popular.
A coluna três pontos vem de forma diferente neste dia, onde é preciso refletir três vezes sobre o mesmo assunto. três vezes, por que a matematicamente, poderá chegar a uma conclusão, contando que não terá um empate ideias quando são apresentadas 3.
1 – O ditado popular
Nelson Rodrigues foi um teatrólogo, jornalista, romancista, folhetinista e cronista de costumes e de futebol brasileiro, que produziu grandes filmes e peças de teatro, e algumas porcarias memoráveis (depois olha na Wikipédia), e umas das frases mais marcantes que até hoje nos remete a pensar quando dizia:
“Se todos concordam com você, alguma coisa está errado, pois toda unanimidade é burra.”
A explicação desta frase tem como base outro ditado popular que “cada cabeça é uma sentença”.
De dito popular em dito popular podemos estender bem o assunto. Mas o que fica em ordem de grandeza, é que jamais existe uma concordância total, global e harmoniosa onde todos os membros envolvidos corroboram.
Em uma família isso não acontece. Mesmo com poucos membros, ainda que sigam a maioria, alguém tem suas restrições ou condições para que se aceite uma decisão.
No mundo corporativo uma decisão é algo muito difícil, independente do tamanho da empresa (com tanto que não seja gerida por apenas um membro), que possua um corpo de diretores responsáveis por departamentos e linhas de produções.
Nosso congresso (que não serve de exemplo para nada) em sua incompetência é um exemplo da dificuldade de pessoas com a mesma intensão concordarem.
De qualquer forma acho que é evidente e natural que jamais tenhamos uma concordância por livre e espontânea vontade.
A história mostra que as ideias impostas sempre predominaram com base no uso da força. A religião fez isso ao longo dos séculos, com perseguição, torturas e mortes dos discordantes.
Conquistadores impuseram sua vontade tanto aos conquistados como aos seus, pelo simples fato de poder fazer desta forma.
Imposições que calam as vozes da população, prevalecendo os déspotas de coroa ou manto.
2 – Democracia – o direito de discordar.
A democracia deu o direito a todos de falarem e organizar seus representantes, para filtrar e conciliar diversos pensamentos.
Tudo que se origina dela é apresentado com votos, escolhas, discordância e opiniões.
Uma das coisas mais interessantes da democracia é exatamente o direito de discordar.
Teoricamente você dá voz para aqueles que realmente importam, que seria o povo pagador de impostos. Tudo gira por que o povo paga. Nós somente temos um governo democrático, com eleitos pelo voto direto (democracia), representantes de nossos interesses por que pagamos para isto. Câmaras municipais, estaduais, federais, cortes, colégios e todas as instâncias são produtos da democracia pago com impostos..
Esse direito da discórdia deve ser exercido sempre. Já dizia o filósofo francês Voltaire. “Não concordo com uma palavra do que dizes, mas defenderei até o ultimo instante seu direito de dizê-la.”
3 – Vale o dito popular?
Dito isto sobre a democracia e o direito de discordar, nós poderíamos esperar que pessoas com um nível de formação e conhecimento superiores, como são os membros do STJ ou STF (sabe a diferença? assunto pra outro dia), deveriam apresentar teses, argumentações, estudos ou qualquer coisa, esperado para o nível de cada membro.
Mesmo os mais odiados como Gilmar, Alexandre, Lewandowski e o recém chegado ao time dos odiados Toffoli, são pessoas que esperamos entendimento e sabedoria, mesmo quando usada para o mal, mas deve ser feito com sapiência e oratória elegante, carregada de conhecimento.
Ai eu fiquei espantado quando abri o site e a manchete diz :
5ª Turma do STJ mantém condenação de Lula e reduz pena para 8 anos e 10 meses
O resultado pouco importa por que esta condenação é sobre o triplex, já tramita o caso do sítio que pode ou não agravar a sua pena. Isto não mudaria nada hoje, pois os ex presidente (detento em Curituba) vai continuar do mesmo jeito. A progressão de pena deve antecipar, mas não será de imediato. Então, não importa o resultado que já era esperado.
O que deixa de queixo caído é que: com toda a formação que cada membro tem, a experiencia de vida de cada um, a diversidade cultural, princípios, valores morais e sociais individuais, a decisão tenha sido unânime.
Nenhum dos senhores e senhoras, já que são 33 ministros, honrosamente togados, não teve ao menos um contrário?
Nenhum deles achou que deveria reduzir para 7 anos ou aumentar para 13 anos?
A favor ou contra que seja, mas somente para não mostrar a todo país que entende que toda unanimidade é burra, uma concordância em escala nacional, com repercussão internacional. Ao menos disfarça né!
Todos concordaram com 8 anos e 10 meses em uma conta exata, mais exata que uma fórmula matemática.
Me valho da sapiência prosaica do bocório fabro brasileiro que diz: “é de descolar o rego da bunda”.

Psicanalista, Escritor, Jornalista, Palestrante e Engenheiro.
Autor de livros de auto ajuda e Romances policiais, atuante em palestras na busca do autoconhecimento e da valorização da saúde mental
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