
Sucupira e a pós-verdade
Sucupira, quem diria, está antenada ao que existe de moderno na arte de persuasão e convencimento.
Em 2016, o Dicionário Oxford, elegeu como a palavra do ano, o termo “Pós-verdade”, ou no inglês “post-truth” e assim a definiu: um substantivo “que se relaciona ou denota circunstâncias nas quais fatos objetivos têm menos influência em moldar a opinião pública do que apelos à emoção e a crenças pessoais”.
Dois fatos recentes agitaram a cidade: a ida das meninas da Ginástica Estética ao México e o processo de Cassação do Prefeito e do Vice.
Os fatos são conhecidos por si só, e não vale a pena encher linguiça.
O primeiro fato, causou grande repercussão e comoção pois se tratava de jovens e talentosas atletas (apesar de grande parte dos que se envolveram no processo, nunca terem visto a uma apresentação das meninas, não saberem a diferença entre Ginástica Estética e outras modalidades, o envolvimento foi unânime). O vídeo do prefeito, ao lado do secretário de Esportes e da Técnica prometendo “passagens, hospedagem e hotel” (sim, o prefeito promete no vídeo hospedagem e hotel, não consegui entender a diferença, confesso) viralizou e as redes foram inflamadas. A nota da prefeitura dizia que o processo de licitação não foi concluído pois com o terremoto no México os custos aumentaram e não havia previsão no orçamento para cobrir este aumento.
A nota da prefeitura não surtiu efeito e o caso se transformou numa bola de neve, não surtou efeito nem mesmo para um jornalista, fã número 1 da administração de Franco, que iniciou em sua rede social uma campanha de arrecadação.
A prefeitura voltou atrás e enviou o grupo das ginastas mais velhas, no total de 8. Segundo a técnica, era o grupo mais forte tecnicamente. O próprio prefeito, fez uma doação do seu salário e assim, mais 8 meninas foram comtempladas com as passagens. A campanha cumpriu seu papel.
Onde entra a pós-verdade? Alguns jornais da região noticiaram que “Prefeitura ajuda grupo de ginastas a irem pro México”. (Grifo por minha conta, pois na minha interpretação, quem ajuda a fazer algo, não faz tudo, mas apenas uma parte, e neste ponto a manchete é justa). Um outro grupo, formado por mulheres, fez um post em redes sociais, dizendo que foram elas que conseguiram a totalidade do montante restante. O jornalista e sua campanha citados acima, foi jogado a escanteio.
Filho bonito tem muitos donos. Ou no caso, muitas versões. Você pode escolher a que mais lhe agrada.
E quanto ao famigerado processo, há muita informação e muita desinformação sobre o fato. A própria imprensa, na terça, durante o julgamento, não sabia apurar claramente as informações. Coube ao Defensor Geral do Governo, o Sr. Toninho Kalunga, em uma live em frente à prefeitura, anunciar que naquele momento o processo já estava ganho com 4 votos favoráveis ao prefeito. Sendo ele, no mérito. Pouco depois, se apurou que a juíza Claudia Lúcia Fonseca Fanucchi, até então tida como linha dura em processos anteriores de mesma natureza, indicou que o processo voltasse para a primeira instância, pois haviam vícios processuais.
O que se viu, foi um show de versões. Cada grupo com a sua. Cada grupo com a sua verdade e com sua técnica argumentativa.
Uma coisa se sobressai: que bom que temos em Cotia pessoas generosas, dispostas a ajudar no sonho de jovens meninas, que tem um futuro imenso pela frente, não apenas uma competição no México. A julgar, por esta demonstração de entusiasmo e de motivação, com certeza, teremos uma cotiana no pódium de uma Olímpiada, muito em breve.
E a julgar, por tão profícuos entendedores de leis e de direito, ainda teremos um cotiano, ou cotiana, em uma cadeira do STF.
E entre coisas pequenas, médias e grandes, entre opiniões, achismos e verdades, a cidade continua na mesma.
Ah, esta também é só mais uma opinião.
Por Rubens da Fonseca
(pseudônimo, morador de Sucupira, confabulador politico-sigilista)