
A rainha do nada
Quem já leu alguma crônica por aqui, já deve saber que eu não sou muito adepta de automóveis, que não gosto de dirigir, que não tenho muita simpatia com o deslocamento no trânsito e que gosto de transporte coletivo.
Pois bem.
Entrei no coletivo a caminho da consulta com a nutricionista. Era quarta-feira da primeira semana de inverno mas a temperatura era boa e tinha sol. Quase todos os lugares já estavam ocupados.
As máscaras voltaram a ser recomendadas devido ao aumento dos casos de covid-19. Eu mesma não fiquei livre da doença que se abateu sobre mim e minha família, com sintomas leves, graças às 3 doses de vacina. Mas algumas pessoas ainda usam a máscara no queixo.
A esmagadora maioria das pessoas permanecem com seus olhares atentos aos smartphones, conferindo as redes socias, jogando, lendo notícias, ou trocando mensagens no whatsApp.
Um moço, enquanto se contorcia no banco para outro rapaz se sentar na janela, perguntava a alguém se o tênis já havia chegado. A senhora de vermelho pedia para alguém preparar o almoço. E a moça de salto alto, com a respiração forte, mal sentou e já segurava o celular em uma das mãos e a bombinha de ar na outra e com isso a bolsa caiu no chão. Eu que também aproveitava o tempo para trocar umas mensagens com um coleguinha, me sentei ao lado da única pessoa que não se importava com o smartphone, na última fileira de bancos do busão – aquela que fica praticamente em cima das rodas e quando o ônibus passa numa lombada temos a sensação de que seremos arremessados e vamos bater na catraca.
Mas voltemos à nossa jovem que não se importava com o celular. E tenho a impressão que nem percebeu que eu me sentei ao seu lado, tamanha era sua concentração ao seu livro. Sim, ela tinha em suas mãos um livro! Uma capa azul linda com o título em letras garrafais: A RAINHA DO NADA.
Confesso que até tentei dar uma espiadela nas páginas para saber um pouco da história mas sou daquelas que fica enjoada quando leio em movimento. E com os meus 50 anos, a visão com astigmatismo, miopia e hipermetropia (sim, tenho tudo isso nas vistas) não me permite ler coisa alguma sem os óculos que estavam na bolsa.
Me restou então viajar no título do livro. Pôxa, nós mulheres já sofremos tanto por conta do machismo, da misoginia e nos contos de fadas somos bruxas, princesas sofridas à espera de um príncipe libertador e quando somos rainha, temos que ser de nada?
O que estaria pro trás daquela rainha de coisa alguma? Teria ela perdido o seu reino por ter se entregado a um plebeu? Ou talvez teria se rebelado e abdicado de seu trono? Ou foi expulsa? Meu Deus, por que essa rainha cujo livro tem uma cobra na capa é do nada?
Cheguei ao meu destino. A mocinha do livro desceu no mesmo ponto que eu e seguiu seu caminho. Eu agora tinha duas coisas em mente: o que a balança de bioimpedância da nutricionista iria revelar sobre mim e que diacho fazia essa rainha do nada.
Sobre a balança, deixa isso pra lá. Mas sobre a Rainha do Nada, descobri que é o terceiro livro da saga O Povo no Ar que narra a história de Jude Duarte, uma garota comum que descobre um universo novo, o dos feéricos (fadas). Ela é obrigada a entrar nesse mundo com 7 anos após o assassinato de seus pais e carrega o título de Grande Rainha de Elphame.
Como mortal ela é desprezada entre as fadas, mas aos poucos ela se verá envolvida em intrigas e traições palacianas e, por fim, descobrirá que ela tem uma capacidade única para criar seus próprios truques e sobreviver a esse ambiente inóspito.
Continuei sem entender nada.