Batalha jurídica por suposta fraude de gênero pode mudar resultado das eleições de vereadores em Cotia

Uma ação que tramita na Justiça Eleitoral, já com decisão e recurso, movimenta os bastidores do legislativo cotiano e pode mudar a composição da Câmara de Vereadores. O Republicanos, partido do atual presidente da Casa, Professor Osmar  e que tem ainda o vereador Rafael Dantas é acusado de fraude na cota de gênero nas eleições de 2024.  

A ação foi movida pela federação Psol / Rede Sustentabilidade, presidida por Cida Aires (Psol) pede a cassação da chapa do Republicanos de Cotia e o acusa de ter laçado candidaturas fictícias de mulheres apenas para cumprir a cota obrigatória de gênero que destina 30% das vagas para mulheres.  Cida foi candidata a prefeita nas eleições de 2024.  

O Ministério Público, representado pelo promotor Felipe Bragantini de Lima, sustenta que as votações obtidas por duas candidatas foram absolutamente inexpressivas, “revelando a total ausência de uma campanha minimamente competitiva”. Dalla Reis obteve apenas um voto e Ana Cecilia 5 votos.  

“Para um município como Cotia, com mais de 192 mil eleitores, tais resultados não podem ser considerados meramente um “desempenho ruim”. São a prova cabal de que as candidatas não se apresentaram ao eleitorado, não buscaram votos e não participaram, de fato, da disputa eleitoral”.  

Mas o juiz eleitoral Rodrigo Aparecido de Godoy, entendeu que não havia provas “inequívocas” de candidaturas fictícias e manteve a chapa intacta, o que representou um balde de água fria na luta das mulheres por representatividade no legislativo, sobretudo em Cotia onde não se elege mulheres há mais de quatro décadas.  


  • O que aconteceu:  Processo: AIJE (Ação de Investigação Judicial Eleitoral) movida pela Federação PSOL/Rede de Cotia contra candidatos do Republicanos (Rafael Dantas, Osmar Danilo, Edson da Silva, Dalla Reis e Ana Cecília Franchini).Acusação: candidaturas femininas fictícias (as chamadas candidaturas laranjas) de Dalla Reis e Ana Cecília Franchini, para cumprir a cota de gênero (mínimo 30%). A federação alegou votos inexpressivos (1 e 5 votos), falta de campanha, ausência em convenção e contas zeradas.

    Defesa: apresentou provas de materiais de campanha (santinhos, adesivos), notas fiscais, fotos em eventos e publicações em redes sociais. Alegou que a baixa votação é comum em Cotia e que houve, sim, atos de campanha — ainda que modestos.

    Ministério Público Eleitoral: opinou pela procedência da ação, ou seja, pela cassação da chapa do Republicanos em Cotia.

    Decisão do juiz eleitoral: julgou a ação improcedente. Ou seja, não reconheceu fraude na cota de gênero.

    Principais pontos da sentença:

  • O juiz reconhece que a votação foi baixa (1 e 5 votos), mas entende que isso, por si só, não comprova candidatura fictícia.
  • Aceitou como suficientes as provas de que houve algum tipo de campanha (santinhos, adesivos, postagens).
  • Considerou que a legislação exige prova contundente e inequívoca de fraude, o que, na visão dele, não ocorreu.
  • Resultado: a chapa do Republicanos está mantida, sem cassações. 
  • Federação e Ministério Público entraram com recurso

 O presidente do Republicanos, Edson Silva, que foi candidato a vice-prefeito na chapa derrotada do PSD de Ângela Maluf, nega o uso de candidatura laranjas para cumprimento de Cota.  

Segundo ele o partido lançou mais candidatura femininas do que exige a legislação. De acordo com dados da Justiça Eleitoral, o Republicanos foi às urnas com 16 candidaturas, das quais, seis eram mulheres (37%). E que todos os candidatos e candidatas receberam material de campanha no pacote da candidata majoritária. E cada candidato ou candidata foi responsável por suas campanhas.  

Sentença completa AQUI

“Problema não foi o cumprimento da cota, mas sim a maneira como ela foi cumprida”, rebate  Leandro Felix, advogado da Federação.  Ele argumenta que as supostas candidatas fictícias, Dalla Reis e Ana Cecilia não participaram nem mesmo das convenções de seus partidos, uma delas estava inclusive em viagem ao exterior, e não divulgaram suas campanhas nem mesmo em seus perfis nas redes sociais. 

A defesa anexou prints para comprovar comparecimento de Ana Cecilia na conveção do partido, que ocorreu no ginásio de esportes de Cotia. Mas os prints das redes sociais foram feitos de modo privado.

A defesa, em que o partido foi representado pela advogada Juliana Camargo, rebateu e apresentou as provas, com prints das campanhas virtuais.  Mas foi impossível não observar que as imagens do Facebook pessoal das candidatas aparecem com um cadeado, o que significa que não foram post públicos, ou melhor, absolutamente ninguém viu. Daí o argumento da Federação Psol/Rede de que não haviam feito nem campanhas virtuais.

Recurso 

A batalha jurídica já ganhou um segundo capítulo,  Ministério Público e Defesa da Federação não aceitaram a decisão do Juiz e entraram com recurso.  

“As frágeis provas de campanha apresentadas pela defesa, consistentes em poucas fotos e vídeos sem data ou contexto verificável, e cuja autenticidade foi devidamente impugnada pela parte autora, não são suficientes para refutar o robusto acervo probatório que demonstra a inexistência de uma campanha real e efetiva”.  

Leia também: Partidos que ignoraram candidaturas femininas nas eleições 2024 começam a ser punidos

Porque o resultado mexe com a Câmara 

A ação movimenta os bastidores da Câmara Municipal e vereadores fazem lobby para convencer os autores a desistirem da ação. Isso porque, caso a fraude seja comprovada e os votos do Republicanos sejam considerados nulos, de pronto, os dois vereadores do partido já perdem seus mandatos. E  a Justiça Eleitoral terá que fazer uma nova contagem de votos e calcular novo quociente eleitoral.  E com isso, outros vereadores podem ficar fora da nova contagem.  

Aguardemos cenas dos próximos capítulos.  

E que a Justiça seja feita.  

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