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Sou cidadã em construção

Eu poderia descrever minha infância de pobreza, de limitações, de fome, frio, preconceito, racismo e discriminação.

Talvez descrevesse minha adolescência de paixões mal resolvidas, de questionamentos, de dúvidas, de entusiasmo, de raiva, de hormônios à flor da pele, de expectativas, espinhas na cara, sorriso largo, revoltas, medos, desejos, angústias e sonhos, muitos sonhos…

E plagiando Belchior eu poderia lhe falar das coisas que aprendi nos livros e tudo o que aconteceu comigo. Poderia lhe falar da minha juventude pós Ditadura Militar, do meu grito pelas Diretas Já, do meu primeiro voto – e para presidente da República do meu Brasil.

Eu poderia lhe falar da minha militância cristã quando aprendi que oração é muito mais que repetir frases prontas e clamar a Deus por um milagre… oração é também brigar pela igualdade dos povos, contra os muros que dividem, contra o preconceito e o racismo. Oração é não aceitar que se morre de fome porque Deus quis assim….
Eu poderia lhe falar de todos os meus amores. E das minhas dores…

Mas agora já sou uma mulher… as espinhas deram lugar às rugas, às estrias e às gorduras acumuladas pelo corpo. Os hormônios logo se transformarão em menopausa. A realidade nem sempre me permite sonhar, outras vezes esconde meu sorriso e transforma sonho em utopia.

Mas a minha essência, ainda é daquela menina…

Sou apenas mais uma na multidão, com uma história parecida com a de tantas Marias e tantos Joãos. Sou cidadã em construção.