Setembro Lilás alerta sobre a desinformação e o impacto desigual das demências
A falta de informação continua sendo um dos maiores obstáculos no enfrentamento da doença de Alzheimer e outras demências. Estudo recente indica que quase 60% dos casos poderiam ser potencialmente evitados ou adiados no Brasil com o controle de fatores de risco como baixa escolaridade, depressão e perda visual não tratada.
Neste ano, a campanha Setembro Lilás, liderada pela Federação Brasileira das Associações de Alzheimer (Febraz), incentiva: “Pergunte sobre Alzheimer. Pergunte sobre demência”, reforçando a importância de buscar conhecimento. No país, mais de 2 milhões de pessoas vivem com demências, mas quase 80% dos casos não são diagnosticados formalmente, segundo o Relatório Nacional sobre a Demência (Renade).
Mitos sobre envelhecimento ainda dificultam o reconhecimento da doença. Muitos sintomas são confundidos com “sinais naturais da idade”. Mesmo após o diagnóstico, a maioria das pessoas não recebe suporte em reabilitação, recurso essencial para preservar habilidades e autonomia.
Impacto desigual
O impacto das demências não afeta todos os grupos populacionais da mesma forma, conforme as informações reunidas na página oficial da campanha, baseadas em dados oficiais. As mulheres, por exemplo, representam a maioria dos casos da doença. No Brasil, a prevalência é de 9,1% entre mulheres e 7,7% entre homens. Além da maior expectativa de vida, essa disparidade pode ser influenciada por questões hormonais, como a redução de estrogênio após a menopausa, e pela sobrecarga do trabalho não remunerado, incluindo o cuidado de familiares com doenças crônicas.
Entre a população negra, há uma maior prevalência de fatores de risco como hipertensão e diabetes, mas ainda não existem dados nacionais consolidados sobre a ocorrência de demência. A falta de estatísticas específicas dificulta a formulação de políticas públicas e pode ampliar as iniquidades. Fatores genéticos não são os responsáveis por essas diferenças de prevalência, o que sugere que elas estão relacionadas a desigualdades sociais.
Para os povos indígenas, o Relatório Nacional sobre a Demência (Renade) aponta a ausência de estudos sobre o tema. Mudanças no modo de vida, vulnerabilidade social e barreiras culturais e geográficas podem aumentar os riscos, mas não há levantamentos que confirmem essa relação.
A população LGBTQIA+ também permanece invisível nas estatísticas brasileiras. Pesquisas internacionais indicam maior exposição a fatores como estresse crônico, depressão, isolamento social e doenças cardiovasculares. Nos Estados Unidos, estudos estimam que entre 18% e 21% dos adultos trans com mais de 65 anos vivem com demência, contra 12% a 13% dos cisgêneros na mesma faixa etária.
Para a presidente da Febraz, Elaine Mateus, os dados disponíveis já mostram um cenário crítico, e a ausência de informações é igualmente reveladora. “A desinformação não se resume aos mitos sobre a demência, mas também ao grave fato de não enxergarmos grupos inteiros da população nos levantamentos”, declara.
(Da Febraz, com imagem Freepik)



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